quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Narrativa – 11/09/2013

Minha infância, minhas brincadeiras, minha formação.

Por Heloisa Baptista Nery.

Não me lembro muito bem do tempo em que estive na Educação Infantil. Posso apenas dizer que tenho alguns “flashes” dessa época. Sei que foi nesse período que aprendi a ler e a escrever, mas não me recordo de atividades de alfabetização. Lembro-me apenas dos muitos livros, cadernos, lápis e canetinhas que minha mãe comprava pra eu brincar de ler e escrever. Ainda na escola, gostava muito de brincar no parque e no espaço de areia, na verdade, gostava mais do parque. Me recordo de que eu costumava levar muitas coisas para a escola. Eu pendurava em mim tudo o que era possível pendurar e ainda levava uma sacola de roupas (adultas) para dividir com os meus colegas e brincar de sei lá do que sem a interferência da professora – acho que por eu levar as roupas, nós brincávamos do que eu escolhia.
Em casa, eu brincava muito com a minha irmã mais nova e com uma vizinha mais velha. Brincávamos de casinha (maioria das vezes sem bonecas), brincávamos de Barbie, de programa de TV, de banho de mangueira, de piscina e de escolinha. Confesso que muitas vezes a minha irmã reclamava à minha mãe que eu não brincava com ela, pois só brincava com a vizinha. Tanto que foi a vizinha quem me ensinou as primeiras coisas da matemática – íamos brincar de escolinha e ela dizia que faríamos continhas.
Enquanto eu fui crescendo as mesmas brincadeiras continuavam, só que agora, a minha vizinha havia mudado de cidade e eu era a mais velha, portanto, era eu quem comandava as brincadeiras. Eu era a professora, eu era a mãe, eu era a líder! Brincávamos todos os dias (eu, minha irmã e uma prima da mesma idade da minha irmã). A manhã era reservada à escola e a tarde era reservada para brincar no quintal da minha vó.
Algo muito interessante a se relatar era o jeito em que as brincadeiras aconteciam. Havia uma época que só se brincava de casinha (arrumava toda a casa, com todos os cômodos possíveis, e nós éramos os personagens – mãe, filha, irmã, vizinha, etc.), outra época só se brincava de Barbie (arrumava toda a casa e a Barbie tinha nome próprio, profissão, namorado e afazeres domésticos) e a época de brincar só de escolinha (eu era a diretora e a professora, montava as carteiras, a lousa, fazia listas de material escolar e mandava para os pais, fazia boletim, etc.). Conforme fui crescendo, as brincadeiras foram migrando para a rua: andar de bicicleta, patins, queimada, futebol, vôlei, três cortes, mamãe polenta, amarelinha, pega-pega, esconde-esconde, qual é a música, clubinho, alerta, banho de chuva e etc.
Diante dessas lembranças percebo o quanto minha infância foi feliz. Brinquei muito, todos os dias e quase o dia inteiro.
Refletindo sobre as brincadeiras que eu brincava e os jeitos de como elas aconteciam, percebo que fui muito influenciada. Claro que eu não posso ter certeza sobre essas influências, pois são apenas reflexões e claro também que pode haver mais influências do que eu possa imaginar.
Atualmente, estudo para ser professora, sou organizada e tenho espírito de liderança. São três de algumas características minhas. Três marcos da minha personalidade que podem ter sido influenciados pelas brincadeiras da minha infância. Talvez, se eu fosse uma criança mais agitada, brincasse menos sentada, não me preocupasse tanto com a organização da minha “casinha” e deixasse a minha irmã liderar as brincadeiras (época em que eu não saía na rua), eu poderia ter outras características.
Pensando assim, a brincadeira em geral é algo extremamente importante na constituição de um sujeito. Se uma criança não brinca, como ela se desenvolve integralmente? A brincadeira é algo natural da criança, ela nasce com esse desejo, com essa necessidade. Se deixarmos, elas só fazem isso, como se a brincadeira fosse alimento, como se ensinasse tudo o que é necessário, como se fizesse o papel de confortar, etc.

Como futura professora, tenho que ter essa concepção do brincar viva em mim. Tenho que propiciar às minhas crianças o direito de aprender consigo mesmas e despertar nelas o desejo de aprender, de criar, imaginar e conhecer, preparando-as efetivamente para a vida social do adulto que um dia ela será.

Um comentário:

  1. Heloisa, estou emocionada com suas memórias e com suas reflexões!

    "a brincadeira em geral é algo extremamente importante na constituição de um sujeito. Se uma criança não brinca, como ela se desenvolve integralmente? A brincadeira é algo natural da criança, ela nasce com esse desejo, com essa necessidade. Se deixarmos, elas só fazem isso, como se a brincadeira fosse alimento, como se ensinasse tudo o que é necessário, como se fizesse o papel de confortar, etc.
    Como futura professora, tenho que ter essa concepção do brincar viva em mim. Tenho que propiciar às minhas crianças o direito de aprender consigo mesmas e despertar nelas o desejo de aprender, de criar, imaginar e conhecer, preparando-as efetivamente para a vida social do adulto que um dia ela será."
    Você é a educadora que as crianças precisam!!!

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